Sacos Pretos

Luiza levantou da cama de madrugada, ainda meio sonolenta, acordada pelo barulho alto vindo de fora. Passou os dedos entre os cabelos os penteando para trás, apertando os olhos sem distinguir direito as coisas. Com certeza a sua visão noturna não a estava ajudando muito, mal enxergava um palmo a sua frente. Acendeu a luz, sentindo seus olhos queimarem por um momento, até se acostumarem com a claridade. Vestiu seu roupão e andou em direção à varanda.

-Ja te disse pra não aparecer aqui a essa hora, o que você quer? 

Disse irritada por ter sido obrigada a levantar à aquela hora...

 -Esqueceu? Hoje é dia do pagamento...você só me deu metade, e eu quero o resto 

Disse o homem inexpressivo, mas que devia estar impaciente.

 Luiza passou novamente a mão pelos cabelos, era um hábito seu...

-Ah, ta, entra aí, tem um pouco do vinho que você gosta... 

-Ah, Luiza, você sabe mesmo como agradar um homem.

 Agora ele tinha um leve sorriso um tanto malicioso, que não agradou muito à jovem.

 O homem sentou à mesa, pegou a taça de vinho e deu um gole. Observou Luiza sumir pela escuridão da casa, vendo o contorno de seu corpo acentuado apenas pelo roupão. Após encarar por 5 segundos aquela sombra que se distanciava, balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. "Ah, essas mulheres...meu ponto fraco"

 Uns 2 minutos depois, Luiza volta com dois sacos pretos, grandes, e fedendo a coisa morta. 

-Vai me deixar carregar isso aqui sozinha?
O homem largou a taça sobre a mesa, com força para quase a quebrar 

-Ah...odeio esse trabalho...

Vieira, Claridad