quinta-feira, 20 de junho de 2013

Avenida Paulista

Depois de chegar do serviço de porteiro, ele olhou pras ruas pela janela do seu apê no 8º andar. Era o único lugar que ele conseguia pagar. A rua da entrada fedia a bebidas, vômito e merda. A rua de trás tinha esperma, mijo e sangue por todas as paredes. Um ótimo lugar pra viver.

Tomou um banho, preparou um desses pratos prontos de microondas. Sentou no sofá e engoliu toda a radiação dessas comidas industrializadas. 6 da noite. Hora de sair. Foi ao quarto. Esparadrapo, gaze, uma cueca apertada. Pronto, quase invisível. Pôs a meia calça nas pernas devidamente depiladas. Sutiã de enchimento, blusinha colada. Jaqueta de strass, tava frio lá fora. Mini saia, salto alto rosa. Unhas postiças e maquiagem fluorescente. Quase pronta.

A transformação de Diego pra Dayanna era simples. Anos de prática. A peruca loira já estava gasta. Mas o dinheiro dos programas só dava pra pagar as contas. Ela desceu o prédio e seguiu a rua até o seu “ponto”. Não teve que esperar muito. Carro preto, forte, óculos de grau, casado. Devia ser executivo, advogado... Sendo o que fosse abaixou o vidro de sorriu. 

Ela debruçou no carro e lentamente abriu os lábios cheios de gloss:

- Boa Noite, gato...


C.S.Rocha


Nenhum comentário:

Postar um comentário